O Brasil sofre com a falta de alternativas para pacientes que necessitam de cuidados entre o tratamento agudo no hospital (após algum incidente grave, como uma cirurgia, um AVC etc) e a volta para casa. Faltam instituições médicas que ofereçam cuidados extensivos (o que significa cumprindo prescrição de enfermagem, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia e mesmo supervisão médica e de farmácia clínica e psicológica, com acompanhamento integral) adequado para reabilitação, cuidados continuados ou de fim de vida. A solução para esse problema é o investimento em instituições de transição, que já existem em vários países há décadas e que agora começam a surgir no Brasil.
Na maioria dos casos, mesmo após ter ultrapassado um procedimento grave com sucesso, a maioria dos pacientes ainda precisa ficar parcial ou integralmente restrito a um domicílio ou ao leito para a total reabilitação. É nesse momento que deixa de fazer sentido que ele ocupe o mesmo leito de cuidados mais complexos, e o melhor caminho seria oferecer a transferência para uma instituição diferenciada em transição de cuidado até que ele possa ser acompanhado e tratado ambulatorialmente.
Estima-se que o custo de um leito intensivo gire entre R$ 4 mil/dia a R$ 15 mil/dia (em fases iniciais de cuidado em CTI, quando necessita de inúmeras máquinas que substituem órgãos, cirurgias e medicamentos de alto custo) enquanto o de um de transição é de R$ 1.200 a 1.600 mil/dia. A adoção desse tipo de solução iria aumentar a oferta de leitos de alta complexidade assim como proporcionar uma economia de custo tanto para hospitais e planos de saúde. E, mais importante, também ofereceriam um serviço médico mais adequado para o estado daquele paciente. Após 7 a 15 dias de internação em um hospital para pacientes agudos ou em CTI, esse paciente passa a ser de longa permanência e perde a prioridade de atendimento para outros pacientes mais graves.
Em uma instituição de transição de cuidado ele sempre será até sua alta, o foco de toda atenção institucional bem como o universo de familiares e cuidadores que o cercam. Este é um ponto fundamental, pois os hospitais de transição são efetivos e muito melhores que os hospitais dedicados a pacientes e situações agudas para dar suporte em todos os aspectos para as famílias de pacientes que sofrem com doenças debilitantes, dependentes de cuidados permanentes e prolongados. A opção do home care pode em alguns casos solucionar estes problemas, mas, muitas vezes, por falta de estrutura física da moradia, de logística e de condições mínimas da família em se engajar no tratamento de seu parente não há como ser utilizado com sucesso, significando um custo muitas vezes mais elevado adicional de cerca de 30 por cento em despesas usuais como água, luz e mesmo segurança domiciliar para aquela família já devastada emocionalmente e financeiramente pela doença de um de seus membros queridos.
A adoção dos hospitais de transição é apontada como uma forma inteligente e segura para a racionalização dos custos de saúde, como afirma o professor de Gestão em Saúde do MBA da FGV-RJ e ex-subsecretário municipal de saúde do Rio de Janeiro, João Luiz Ferreira Costa. No Brasil, já existem alguns bons exemplos sendo implantados. Em São Paulo, os hospitais Premier e Premium Care já estão funcionando e adotando o modelo. Há ainda o grupo CENE, que mantém hospitais desse tipo em vários estados do país. No Rio, tivemos a abertura recente do segundo Hospital Placi, na zona sul. Porém, o Brasil está apenas começando se comparado a outros países. Um exemplo é o grupo americano Select Medical, que já tem uma história de 20 anos, unidades em várias cidades americanas e emprega cerca de 42 mil pessoas.