Referência na rede pública pelo tratamento humanizado destinado aos pacientes, o Hospital Municipal Evandro Freire, do Rio de Janeiro (RJ), acaba de criar uma Comissão de Cuidados Paliativos, com profissionais de diferentes especialidades médicas, que tem como objetivo realizar um trabalho ainda mais especializado e cauteloso na assistência à pacientes com doenças crônicas e limitantes de vida.
Fazem parte do grupo os médicos Leonardo Guerreiro e Patrícia Palácios, a dentista Flávia Lobão, o psicólogo Auri Mendes Júnior, a assistente social Márcia Cristina Vignoli, as enfermeiras Rafaela Rocha e Patrícia Almeida (CTI), o enfermeiro Marcos Santos (Clínica Médica), a nutricionista Thaís Omena, a farmacêutica Karina Senra, a fisioterapeuta Aline Santos e a gerente assistencial Maria Elizabete Serejo.
A partir deste mês de setembro, eles organizarão workshops a todos os funcionários do hospital para apresentar o que cada profissional de saúde pode fazer, dentro da sua área, em se tratando de Cuidados Paliativos. Em agosto, todos estiveram reunidos para reunir questões como princípios básicos, aspectos éticos e legais, a tomada de decisões, a importância da enfermagem paliativa, o papel do serviço social, a espiritualidade e religiosidade como aliados no tratamento, entre outros assuntos.
“Os Cuidados Paliativos são importantíssimos diante de uma condição clínica ou doença que ameace a vida”, ressalta o Dr. Leonardo Guerreiro. “Procuram aliviar os sintomas do paciente e integrá-lo como ser humano, uma vez que encara a morte como processo natural”, completa a Dra. Patrícia Palácios. Além disso, podem prolongar a sobrevivência do paciente e oferecer mais conforto a ele e sua família.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é uma abordagem que promove a qualidade de vida de pacientes e seus familiares, por meio da prevenção e do alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais.
O Cuidado Paliativo não se baseia em protocolos, mas em princípios que regem a atuação de uma equipe multiprofissional. As ações paliativas têm início já no momento do diagnóstico e acompanham o curso da doença, afastando a ideia de “não ter mais nada a fazer”.
“O paciente quando vivencia sua finitude necessita ser cuidado até o final, resgatando sua dignidade. A enfermagem tem papel extremamente relevante, uma vez que o profissional de saúde permanece o tempo todo ao lado do paciente e realiza a interface com a equipe médica e seus familiares”, afirma Rafaela Rocha. “A comunicação entre todos é primordial durante esse processo”, lembra Márcia Vignoli.
A espiritualidade e a religiosidade de cada um também devem ser levadas em conta. “Muitas vezes ao longo do tratamento, o paciente recorre à fé e a religião para amenizar a dor e o sofrimento ou até mesmo como forma de ser curado”, explica Maria Elizabete Serejo.
Nem todos os hospitais públicos oferecem o atendimento paliativo. No Brasil, ainda imperam um enorme desconhecimento e preconceitos em relação ao tratamento porque muitos o confundem com o uso de opióides, como a morfina, para o alívio da dor. Embora, em 2005, a Academia Nacional de Cuidados Paliativos tenha sido fundada para regularizar a profissão de paliativista brasileiro, estabelecer critérios de qualidade para os serviços e definições mais precisas, somente em 2009, o Conselho Federal de Medicina (CFM) incluiu os Cuidados Paliativos como princípio fundamental no Código de Ética Médica. Mas, até hoje, há uma lacuna na formação de médicos e profissionais de saúde em Cuidados Paliativos, devido à ausência de residência médica e a pouca oferta de cursos de especialização e de pós-graduação.