Leia a primeira parte desta matéria em: www.revistahospitaisbrasil.com.br/noticias/o-poder-do-amor-da-arte-e-da-doacao-pessoal-parte-1
Por Carol Gonçalves
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CÃO TERAPIA
Vamos começar pelos animais: não há como negar o poder do amor desses bichinhos. Pensando nisso, a Unimed Fortaleza (CE) passou a oferecer para os pacientes que estão no HRU – Hospital Regional Unimed a cão terapia, realizada em parceria com o Instituto Cão Vida Lui, que busca promover atividades sociais e terapêuticas mediadas por esses animais.
Semanalmente, cães da raça Golden Retriever, vacinados, higienizados e com atestados de veterinários, levam atenção e carinho a diversos locais do hospital. Eles são treinados para interagir com os pacientes, estimulando o afeto e a socialização, diminuindo o estresse. Os cães ficam sob os cuidados de seus condutores durante todo o tempo que estão no hospital e, além disso, recebem acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, composta por fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta. Importante ressaltar que a ação está regularizada pelo Centro de Controle de Infecção Hospitalar e garante a total segurança de todos os envolvidos.
“Quando decidimos trazer os cães para o HRU, visamos estimular momentos especiais para os nossos pacientes. A forma com que o animal consegue despertar afeto nas pessoas é simples e muito eficiente. Essa é a primeira parte do projeto; no futuro, iremos permitir também que os animais de estimação dos próprios pacientes possam visitá-los. Trata-se de um processo que exige muito cuidado e responsabilidade de todos nós. E é importante ressaltar que os pacientes visitados são autorizados tanto por seu médico assistente quanto pela família para receber a visita”, comenta o Dr. João Borges, presidente da Unimed Fortaleza.
EXPRESSÃO ARTÍSTICA
E agora vamos para o campo da arte… Ouvir histórias, conversar, pintar, traçar planos futuros, rir, chorar, cantar são alguns procedimentos do projeto Terapia Expressiva – O pássaro azul da felicidade, que foi apresentado em outubro aos pacientes na Brinquedoteca do Centro Infantil Boldrini, localizado em Campinas (SP). A atividade, desenvolvida pela médica Denise Vianna, docente da Universidade Federal Fluminense, contou com a participação da artista plástica e terapeuta Ingrid Lemos e da pedagoga e fotógrafa Ana Paula Cuzziol.
“Terapia expressiva é um conjunto de procedimentos com finalidade terapêutica que utiliza materiais e técnicas, como pintura, modelagem, dança, teatro, escrita, desenho, etc., conforme o momento, o desejo e a necessidade do paciente”, explica Denise.
Cada um dos materiais é utilizado para estimular a criatividade e ajustar a energia vital, para promover harmonia e bem-estar. Conforme a expressão do paciente, por meio do material, o terapeuta sugere os próximos passos para o trabalho. “A terapia expressiva, tanto individual como em grupo, tem eficácia clínica comprovada nas atividades hospitalares. Traz benefícios quando feita com acompanhantes e equipe hospitalar, pois promove o diálogo e ameniza as angústias”, diz.
Durante a atividade, crianças, seus pais e voluntárias dos setores finalizaram bonecas de cartolina com perucas de diversas cores, utilizando roupinhas de pano, colares, brincos e outros adereços. Denise conta que uma das mães, enquanto ajudava a filha a enfeitar sua boneca, quis fazer uma para a outra que estava em casa, escolhendo com muita alegria todos os itens que ia colocando. “Muitas voluntárias também fizeram a atividade, e algumas mães emprestaram seus bebês a algum colo amigo para poder brincar conosco”, descreve.
Depois da história, a médica induziu uma meditação para crianças. “Agora vou pedir para você fechar olhos, respirar lenta e profundamente, pelo menos três vezes, até se sentir bem relaxado. Imagine que seu peito é uma gaiola, e que seu coração é um pássaro azul. Entre em contato com seu coração, e lembre em que momento da sua vida você viveu uma grande felicidade. Recorde o acontecido e os sentimentos que invadiram seu coração. Encha seu coração com essa felicidade, e deixe que ela se espalhe por todo o seu corpo, como um remédio milagroso para você e para todos que estão neste lugar. Quando estiver pronto, abra os olhos”.
Em seguida, foram distribuídos móbiles semiprontos com pássaros de origami para que as crianças os terminassem com uma grande variedade de contas. Um pequeno guizo foi colocado na ponta de cada um, para que o vento pudesse fazer os pássaros cantarem. “Sempre que não estiver bem, olhe para seus pássaros azuis, que podem ser, daqui pra frente, o símbolo da felicidade”, orientou na ocasião.
O pássaro azul representa a liberdade, a alegria e o amor, que, resistem mesmo nas situações mais difíceis, embora às vezes tais qualidades estejam aprisionadas e inacessíveis por doenças, medo e outras emoções.
Denise acredita que, por sua longa experiência trabalhando com a terapia expressiva, as histórias contadas e a manufatura com materiais variados visam trazer conteúdos inconscientes à tona, num processo capaz de desbloquear sentimentos e ajudar na recuperação de doenças físicas e desconfortos emocionais. “Por isso, nosso trabalho se resume no aforismo ‘Terapia expressiva – da psique ao suporte, expressão; do suporte à psique, terapia’”, revela.
O projeto também envolveu palestra e debate com os profissionais da equipe multidisciplinar do Boldrini, que tiveram a oportunidade de rever noções sobre doença, saúde, vida e morte. “E ainda explicitar as angústias no cuidado de si mesmo, melhorar o desempenho, fortalecer a conexão com o ideal da profissão, promover a integralidade das ações no hospital e o desenvolvimento do cuidado multiprofissional”, encerra a docente.
(Continua…)