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Rio de Janeiro registra aumento em todos os indicadores de transplantes no 1º trimestre de 2017

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Aos 41 anos, subir os 72 degraus que separam o asfalto de sua casa, na comunidade da Rocinha, era um grande desafio para José Osmar. Portador da Doença de Chagas, ele viu sua vida mudar com o telefonema do Programa Estadual de Transplantes, para informá-lo de que havia um coração compatível para o procedimento que salvaria sua vida. Hoje, aos 45, ele pretende comemorar mais um ano da nova vida correndo a Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro, em agosto.

“Se não fosse pela família que autorizou a doação de órgãos, eu não estaria aqui para contar minha história. Passei por muitas dificuldades, sem sequer conseguir participar da vida dos meus filhos, porque o mínimo esforço era demais para mim. Só conseguia dormir sentado, ou sentia falta de ar. Depois do transplante, foi como se eu tivesse voltado a viver. Serei eternamente grato à família do doador que teve uma atitude tão nobre para salvar a vida de um desconhecido”, conta ele, emocionado.

A mesma emoção é aguardada com ansiedade pelo fotógrafo Joe Eleotério, de 47 anos, morador de Nova Iguaçu. Há quatro meses na lista da Central Estadual de Transplantes, à espera de um doador compatível para realizar um procedimento de coração, ele não perde a esperança de receber a ligação com a notícia mais importante que a família pode receber. Joe tem cardiomegalia – doença que causa aumento no tamanho do coração em proporções anormais – e começou a se tratar aos 26 anos. Ele conta que dois tios já faleceram, vítimas da mesma doença. Ao receber a notícia de que entraria para a lista de espera por um órgão, Joe rapidamente decidiu fazer o que está ao seu alcance para sobreviver.

“Quando soubemos que eu precisaria de um transplante, eu e minha família passamos a falar sobre a doação de órgãos com amigos e com nossa vizinhança. Pegamos panfletos e informativos sobre o assunto, distribuímos nos estabelecimentos comerciais da região, tudo para incentivar as pessoas a falarem sobre o assunto. Entendo que isso é um trabalho de formiguinha, mas de pouco em pouco, a gente pode conseguir fazer muito. Já recebi duas ligações, mas os órgãos não foram compatíveis. A expectativa é grande, mas tento segurar a ansiedade, até para não prejudicar minha saúde. Mantenho a fé”, acredita ele.

José Osmar e Joe Eleotério são os rostos que dão cara aos números que o PET busca aumentar a cada dia e a dimensão do que motiva o trabalho dos profissionais do programa: cada vida é uma vida a ser salva. Prestes a completar sete anos de atuação, o programa registrou, no primeiro trimestre de 2017, crescimento em todos os seus indicadores, quando comparados ao primeiro trimestre de 2016. Transplantes de coração, considerados bastante complexos, teve o registro até então inédito no RJ de cinco procedimentos em três meses, o que é considerada uma marca histórica para o estado. No mesmo período, no ano passado, foi apenas um. Os números de transplantes de fígado e de rins também apresentam crescimento, quando comparados ao primeiro trimestre de 2016 – foram 66 transplantes hepáticos e 100 renais no primeiro trimestre deste ano; e 42 hepáticos e 82 renais no mesmo período do ano passado.

“Superamos muitas dificuldades ao longo do ano passado, em que adotamos diversas medidas para adequação dos recursos disponíveis para a saúde e, com uma gestão eficiente, podemos observar os resultados agora. A conscientização da sociedade quanto à importância de falar sobre esse assunto e de, em um momento difícil, que é a perda de um ente querido, autorizar a doação, é o que impacta diretamente nos transplantes. A doação de órgãos é um ato de amor, totalmente altruísta, e permite uma nova chance para quem precisa de um procedimento como este para sobreviver”, explica Luiz Antonio Teixeira Jr., secretário de Estado de Saúde.

Em 2017, o número de transplantes de córnea, que já tiveram tempo de espera de até 10 anos, bateram novamente o recorde de procedimentos realizados, uma vez que 2016 já havia superado o ano de 2015. Em 2017, nestes três primeiros meses, foram 153 procedimentos, enquanto em 2016, no mesmo período, foram 113.

“Além do aumento do número de transplantes em todas as modalidades, o tempo de espera também reduziu. O caso da córnea tem sido o mais emblemático, que passou de quase 10 anos para cerca de 1 ano e meio, quando ultrapassamos pela primeira vez a barreira de 500 transplantes em 2016. O PET tem adotado diversas ações de gestão e educação, tanto para profissionais de saúde quanto para a sociedade, com o objetivo de retomar o crescimento e isso se reflete nos indicadores positivos que alcançamos neste primeiro trimestre de 2017”, destaca o nefrologista Rodrigo Sarlo, coordenador do PET.

Aumento de doações – Em 2016, o PET encerrou o ano com taxa de doação em 13.8 PMP (por milhão de habitante). Já no primeiro trimestre de 2017 apresentou alta, chegando a 15.4 (PMP), o que representa uma variação positiva de 12%. Desde que foi criado, em 26 de abril de 2010, o programa já ultrapassou a marca de 8.593 transplantes de órgãos e tecidos realizados nos últimos sete anos, mudando completamente o cenário deste tipo de procedimento no estado do Rio de Janeiro.

Vidas que dependem do “sim” – A legislação brasileira determina que apenas parentes diretos de pacientes com diagnóstico de morte encefálica têm o direito de autorizar a doação de órgãos e tecidos. Não há nenhum documento que possa ser deixado em vida para garantir que a doação ocorra após a morte. Portanto, conversar entre as famílias e expor o desejo de ser doador é a forma mais importante de fazer com que essa vontade seja respeitada. Em 2016, entre as famílias entrevistadas pelas equipes de acolhimento familiar, 46% deram resposta negativa à doação. Já nestes três primeiros meses de 2017, essa índice está em 40,6%.

“Isso mostra que 59,3% das famílias nesta situação disseram “sim” à doação de órgãos. Cada vida é importante, por isso, a conscientização da sociedade é tão importante. A captação de órgãos para transplantes só acontece mediante a autorização familiar. Nas entrevistas, oferecemos à família que perdeu um ente querido o direito de doar os órgãos e, desta forma, salvar vidas que dependem disso” explica Patrícia Bueno, assistente social do PET e integrante da equipe de acolhimento familiar.

Doe+Vida – Com trabalho voltado para a assistência de parentes de pacientes vítimas de ME, as equipes da Coordenação Familiar também realizam, desde 2015, palestras de conscientização em empresas, instituições e diferentes entidades para falar sobre o assunto. Em dois anos, mais de 1,7 mil pessoas já participaram das palestras. Além disso, o programa disponibiliza o site www.doemaisvida.com.br, onde as pessoas que querem se declarar doadoras podem se cadastrar e compartilhar a vontade com familiares e amigos. Apesar de não ser um documento legal, uma vez que somente familiares diretos podem autorizar a doação, o cadastro visa estimular as famílias que discutam o assunto, busquem informações e compartilhem entre todos a vontade de ser doador. Para os mais de dois mil pacientes que aguardam por um transplante no estado do Rio de Janeiro, a esperança de uma nova vida começa com o “sim” de uma família que, mesmo em um momento de extrema dor, pode dar uma nova oportunidade para outras pessoas. É este o pensamento que garante a fé de pessoas como Joe Eleotério.


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