O sistema de saúde brasileiro é financiado de três formas: pelo poder público, pelos empregadores e pelos próprios indivíduos.
Poder público: financia os usuários do SUS, Sistema Único de Saúde
Empregadores: por meio da autogestão, contratação de seguradoras ou plano de saúde, financiam a grande parte dos beneficiários da saúde suplementar
Indivíduos: se auto financiam por meio de aquisição pontual dos serviços de saúde (gastos particulares) ou pela aquisição de planos de saúde individuais.
Dado esse conceito, no inicio de 2017, a saúde suplementar contava com cerca de 48 milhões de beneficiários e outros 22 milhões apenas com planos odontológicos. Considerando que os indivíduos que adquirem serviços pontuais de saúde e que não tem um plano individual são poucos, podemos considerar que o SUS precisa financiar cerca de 160 milhões de pessoas. Ou seja, o país, por meio dos impostos, precisa oferecer prevenção, promoção e tratamento à 160 milhões de pessoas.
Agora vamos a alguns fatos:
A atenção primária do país não é explorada da forma adequada, ou seja, trabalhamos muito pouco na promoção e prevenção da saúde;
O Brasil foca no tratamento e não na prevenção (dentro de qualquer sistema de saúde o tratamento é mais caro do que a prevenção);
Fatores de risco da população brasileira como consumo de álcool, drogas, obesidade, hipertensão, entre outros, tem aumentado;
A idade média da população brasileira está aumentando, e a população de idosos irá triplicar num curto espaço de tempo, com um consequente aumento de doenças crônicas, câncer, doenças vasculares e mentais, etc;
O custo médico sobe mais do que a inflação há anos e não há nenhum indício de reversão desse quadro;
A judicialização tem aumentado ano após ano, aumentando ainda mais os custos com a saúde, tanto do setor público quanto do privado.
Só estes fatos já nos levam a concluir que a capacidade dos Governos em direcionar recursos público para saúde, numa visão de gastos por pessoa, irá diminuir, justamente num momento em que a população está envelhecendo e necessitará de mais cuidados.
Em adição a este cenário, os gastos que os empregadores têm com a manutenção dos planos de saúde de seus empregados deve aumentar, se não quiserem perder em qualidade – a menos que os empregadores também se conscientizem e comecem a atuar já na prevenção e na promoção da saúde.
Agora, imagine um quadro em que, além dos fatores acima descritos, ainda temos recessão, levando a:
Fechamento de empresas e consequentemente, receitas com impostos diminuírem;
Aumento de desemprego.
Com esses fatos adicionais podemos concluir que há uma migração de beneficiários da saúde suplementar para o SUS (ao perderem seus empregos acabam perdendo acesso a saúde suplementar) e uma redução da capacidade do Governo com os investimentos/ gastos em saúde (quando empresas fecham e pessoas perdem emprego, impostos diminuem).
Juntando todos esses fatores, o que temos num futuro bem próximo são mais pessoas utilizando o SUS e menos capacidade de manter ou aumentar o aporte de recursos públicos com saúde. Ou seja, os gastos por pessoa com saúde dentro do SUS deverá diminuir. O que já era ruim, pode piorar.
Considerando apenas esse viés (e olha que há vários outros pontos em relação a saúde) se os gestores públicos não se preocuparem com a qualidade do gasto público na saúde, considerando que a carga tributária do país já é elevada e que aumento de impostos para sustentar esse quadro não deveria ser uma solução, a qualidade do serviço prestado pelo SUS como um todo irá piorar ainda mais.
Luiz Sedrani é sócio da 3GEN Gestão Estratégica