Desde que iniciou o tratamento contra o câncer de fígado na Multihemo, clínica de Recife (PE) especializada em oncologia, escrever foi um dos passatempos para Lenivaldo Gaia, de 63 anos. Apaixonado pela literatura, o hobby tornou-se vital para o período difícil e culminou no lançamento de um livro, intitulado “O corpo pena, a alma é plena”, lançado na última sexta-feira (28). Lenivaldo é um dos pacientes que sentiu de perto os efeitos que a arte tem sobre o bem-estar. De acordo com uma pesquisa divulgada em julho deste ano, incluir atividades prazerosas durante a luta contra o câncer pode aumentar em 42% a sensação de felicidade. E estar feliz diminui a dor e aumenta a eficácia dos métodos de tratamentos, dois ganhos muito importantes durante o tratamento.
Ainda segundo o relatório elaborado pelo Grupo Suprapartidário para Artes, Saúde e Bem-estar, órgão ligado ao governo britânico, a sensação de bem-estar em pacientes oncológicos apresentou uma melhora significativa durante 24 semanas. O estudo avaliou de perto os efeitos da música, literatura, dança e expressões artísticas e atestou que o bem-estar teve um aumento de 42% e o otimismo apresentou uma elevação de 25%.
Aqui no Brasil, a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC), instituída pelo Ministério da Saúde em 2006, reconhece a importância de utilização de outras metodologias durante o tratamento, como a reflexologia, a meditação, musicoterapia e acupuntura. Juntas, essas atividades prometem humanizar cada vez mais o tratamento oncológico.
Na Multihemo, a prática é incentivada pela equipe multidisciplinar que acompanha de perto cada tratamento. De acordo com a psicóloga Daniela Albuquerque, exercer atividades ocupacionais promove a qualidade de vida nesse período tão turbulento. “A partir do momento do diagnóstico, o paciente passa a ter uma rotina diferente e muitas vezes esse é o momento de se redescobrir. A autorreflexão está muito presente durante o tratamento inteiro e incluir atividades físicas, cognitivas, sociais ou espirituais serve tanto para guiá-los nesse processo de enfrentamento quanto para aliviar o sofrimento, dando uma visão diferente sobre a doença e também possibilitando a descoberta de um uma nova paixão para se dedicar”, comenta.
Para Lenivaldo, a dedicação ao livro foi uma forma de expressar conflitos de sentimentos que surgiram com a notícia da metástase, em 2014. Foi um ano e meio de empenho para dar vida ao projeto, que teve seu tão aguardado lançamento. Para o escritor, o objetivo também é alcançar outros pacientes e oferecer alento através da ótica de quem passa pelas mesmas aflições do tratamento. “É importante que os meus leitores, principalmente aqueles que estão passando pelo tratamento, saibam que é necessário lutar até o fim, pois a gente não deve se entregar antes de perder. E não se perde antes de realmente se perder. No final das contas, felicidade e gratidão são o que devem restar”, reflete.