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Cuidados paliativos reduzem casos de mortes de pacientes

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Silvana Tostes e a mãe, Marlene, elogiam trabalho da equipe de cuidados paliativos do HC. Dona Marlene já está em casa (foto:Milena Aurea – 09.ago.2017 / A CIDADE)

A equipe multidisciplinar de cuidados paliativos do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto (SP) acaba de completar três anos de atuação e comemora os resultados: o trabalho foi responsável pela redução das mortes dos pacientes com doenças ou condições de saúde potencialmente fatais na Unidade de Emergência.

Segundo levantamento apresentado pela equipe, 44% dos pacientes atendidos morreram em 2016. Em 2014, o índice ficou em 54%. Outro resultado considerado positivo foi o registro de um maior número de altas: em 2016, 30% dos pacientes deixaram o hospital e foram para casa, ante 20% em 2014.

O trabalho foi responsável ainda pela queda no tempo de internação dos pacientes com doenças potencialmente fatais na Unidade de Emergência – caiu de 27,5 dias em 2014 para 9 dias, em média, em 2016.

“Mais qualidade de vida é o foco do trabalho, que traz como efeito secundário a redução dos custos hospitalares”, destacou o médico André Filipe Junqueira dos Santos, colaborador da equipe de cuidados paliativos.

Ele explica que os profissionais são acionados para dar suporte aos funcionários da Unidade de Emergência, aos familiares e aos pacientes em casos que os internados já não respondem ao tratamento curativo. “Os objetivos são o controle dos sintomas, o conforto e a dignidade”, lista.

O trabalho é focado para reduzir os sintomas físicos, psicológicos, sociais, emocionais e vai além: trabalha a questão espiritual – um capelão integra a equipe (leia mais abaixo). Tudo com o objetivo de aliviar o sofrimento dos pacientes e familiares.

A máxima “Não há o que fazer” no caso de pacientes com doenças potencialmente fatais simplesmente não faz parte do vocabulário da equipe.

“O foco é a saúde como um todo, saímos do campo da doença”, declarou André. “Sempre tem muita coisa a se fazer, como resgatar o vínculo com a família, por exemplo”, emenda Frederica Lourençato, assistente social da equipe.

Dupla sertaneja

Um dos exemplos do atendimento prestado pela equipe, em maio deste ano, foi o pedido aceito de um paciente idoso com esclerose lateral amiotrófica, uma doença neurodegenerativa progressiva e fatal.

O paciente solicitou à equipe a apresentação de uma dupla sertaneja no hospital e pediu para os profissionais contatarem os filhos com os quais estava com relações estremecidas. O resultado foi muita música, animação e reconciliação.

“Dá uma força muito grande para a gente”

A dona de casa Silvana Tostes, 51, ficou com a mãe, Marlene, 79, na Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas e é só elogios à equipe de cuidados paliativos. A paciente ficou internada durante uma semana, mas já recebeu alta e está em casa.

“O padre veio aqui no hospital, fez uma oração, pediu melhoras. Essa parte espiritual é importante porque dá conforto para a gente e também para o paciente”, pontua Silvana.

Marlene descobriu um câncer no pâncreas em estágio avançado há um mês, após passar por uma consulta de rotina.

Apesar do quadro debilitado, a paciente declarou não sentir dores e até conversou rapidamente com a reportagem quando estava internada. “O atendimento aqui é joia [fazendo o gesto com as mãos].”

“Ela está na morfina 24 horas, então não sente dor. A equipe pediu para ficarmos com ela em casa, para ter o calor da família. É importante esse apoio e aqui ela correria risco de infecção hospitalar”, concluiu Silvana. Marlene recebeu alta e está em casa junto da família.

Tratamento espiritual

Capelão da equipe de cuidados paliativos, o padre Josirlei Aparecido da Silva explica que o trabalho realizado por ele é inter-religioso, ou seja, ele contata líderes religiosos de determinado paciente e aproxima a equipe médica dessas pessoas. O foco é o tratamento espiritual, sem bandeira de religião, no sentido de melhorar as condições dos pacientes.

“Muitos líderes acabam vindo ao hospital visitar os pacientes. Alguns vêm com promessa grande de um milagre, de que deixando de tomar remédio o doente vai ficar curado, mas, ao conversar e entender o trabalho da equipe, muda-se essa postura. Creio que esse trabalho, caso o paciente não resista, traz uma morte mais tranquila, ele fica mais preparado”, explica. Em junho deste ano, a equipe atendeu ao pedido de uma paciente internada com esclerose sistêmica, uma doença autoimune em que o sistema imunológico ataca os tecidos do próprio organismo. O padre fez o casamento dela, com direito a vestido de noiva e música, no ambiente hospitalar – já estava tudo marcado quando ela adoeceu e não quis adiar.


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