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Mais de 40% dos pacientes transplantados de medula óssea podem desenvolver doença do enxerto contra o hospedeiro

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Enfermeira especialista em oncologia, Mayara de Souza. Foto: ACS IBCC

Quem passou pelo Transplante de Medula Óssea alogênico aparentado e não aparentado está sujeito a uma condição que ocorre quando as células da medula óssea ou células-tronco do doador atacam o receptor. Denominada de GHVD (Graft-versus-host disease) ou em português DECH (Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro), ela pode ser aguda ou crônica. A DECH aguda, em geral, acontece até os 100 dias do transplante, enquanto a DECH crônica, em geral, ocorre após este período, quando interfere de forma significativa no cotidiano do transplantado que precisará de cuidados especiais em ambulatório.

No IBCC – Instituto Brasileiro de Controle do Câncer, em São Paulo (SP), o ambulatório exclusivo para tratar a DECH completou 1 ano de atuação. Segundo a enfermeira especialista em oncologia, Mayara de Souza, responsável pelo atendimento direto, 13 pacientes vêm sendo atendidos regularmente nesse ambulatório. “A maioria dos pacientes desenvolveu a DECH, que também pode ser chamada de síndrome sistêmica, após 2 anos do transplante, ou seja, são crônicos e aqui no ambulatório temos acompanhamento médico mais próximo, frequente e com orientações específicas sobre a doença”, explica.

Segundo as estatísticas, de 40 a 50% dos pacientes transplantados podem sofrer a DECH. A manifestação da doença pode ser na pele, boca, fígado, olho, partes genitais e pulmão, sendo a última a mais grave. “No ambulatório exclusivo orientamos sobre desde cuidados com a temperatura do banho, até os cuidados com a exposição solar, produtos e cosméticos utilizados e outros”, detalha Mayara.

Manifestações

A DECH crônica pode se manifestar de diversas formas, em uma ou mais regiões do corpo e com diferentes intensidades, segundo a dra. Maria Cristina Macedo, oncohematologista coordenadora técnica da Unidade de Transplante de Medula Óssea do IBCC. Existem classificações bem definidas para avaliar a extensão e gravidade da DECH. Os sintomas mais comuns são:

– Olhos secos, lacrimejamento, irritação, sensibilidade à luz;

– Boca: pequenas lesões, bolinhas que podem acometer parte da boca ou toda a região incluindo língua, parte interna das bochechas ou palato. Pode impactar na alimentação, paladar;

– Região genital: lesões, dificuldade para realização do ato sexual, ardor local;

– Pele: é o órgão mais frequentemente acometido e pode ter diversas formas de manifestação: pele seca, com coloração mais escura ou, pelo contrário, áreas de vitiligo (pele sem cor alguma), lesões elevadas limitadas ou extensas, prurido. Pode haver uma manifestação mais rara que é o enrijecimento da pele (esclerodermia), etc;

– Unhas/cabelos: unhas onduladas e enfraquecidas, cabelos mais ralos e com alteração da coloração;

– Trato digestivo: diminuição do apetite, náuseas, diarreia;

– Fígado: alterações vistas principalmente pelos exames de sangue que avaliam o fígado, icterícia (coloração amarelada dos olhos e pele);

– Pulmões: tosse, redução da capacidade respiratória.

– Outras alterações: alterações semelhantes a algumas doenças reumatológicas, alterações no sangue (redução das plaquetas), emagrecimento, etc.

A reação contra o organismo pode acontecer e pode ser vista por um lado positivo, ainda segundo a médica. “A DECH é uma reação das células do doador contra as células do hospedeiro (paciente), porém em geral é acompanhada de uma reação contra as células tumorais do paciente, que é o que chamamos de “reação do enxerto contra leucemia” ou “contra linfoma”. Essa reação auxilia no combate da doença maligna e reduz a chance do retorno da doença (recaída)”, finaliza a dra. Maria Cristina.

Diferenciais

A Unidade de Transplante do IBCC tem capacidade para realizar até 100 transplantes por ano e todo paciente é acompanhado no ambulatório específico caso inicie sinais e sintomas da DECH. O acompanhamento é realizado com equipe médica que inclui hematologista especializado m transplante, enfermeira especializada, outros profissionais médicos de referência (dermatologista, ginecologista e oftalmologista), e possibilidade de encaminhamento ao psicólogo e nutricionista. Temos um protocolo internacional de classificação desta doença que inclui prova de função respiratória entre outros exames.

Esta classificação orienta a necessidade de tratamento cuja base é a imunossupressão. A DECH e o seu tratamento aumentam a chance de infecção. A enfermagem tem papel fundamental visto que orienta sistematicamente os cuidados com a pele, orofaringe, higiene, vacinação, cuidados e procedimentos em caso de infecção. A equipe envolvida também proporciona um ambiente onde questões sociais e emocionais podem ser abordadas com mais tranquilidade.


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