Bastaram abrir as portas do Centro Cirúrgico no início da semana para o paciente ser logo reconhecido. “Olha o noivo do casamento no hospital. Tá famosinho, hein?”, saudou com bom humor uma técnica em enfermagem. Afinal, não é todo dia que acontece um fato inusitado, como um paciente internado se casar dentro de um ambiente diferente daqueles do imaginário da maioria dos casais.
Na última sexta-feira (11), o inesperado aconteceu no Hospital Márcio Cunha, de Ipatinga (MG), com o Célio dos Santos Oliveira e a Marilene Batista de Sousa. Com as bênçãos de um pastor, a presença de um amigo, de um casal de padrinhos e até com a cobertura de uma equipe de TV, além da torcida de toda a equipe assistencial que vem cuidando do Célio há 40 dias, o tão aguardado “sim” dos noivos foi a realização de um sonho de mais de uma década.
“A gente vem tentando casar desde o começo, mas sempre aparecia trabalho para mim em outra cidade. Dessa vez, cheguei a dispensar um serviço em Mato Grosso porque já tinha marcado o casamento para 20 de fevereiro. E já estava tudo acertado, aluguel do espaço, mesas, jantar, decoração, vestido da noiva da minha mulher”, conta o noivo. Até que veio o acidente. Célio, que é soldador, instalava uma calha em um terraço de um sítio no município de Belo Oriente, quando a estrutura metálica esbarrou na rede elétrica. Com um choque de 13.600 volts, ele desmaiou e caiu de uma altura de sete metros.
Célio foi levado para o Hospital Márcio Cunha com queimaduras elétricas de segundo e terceiro graus em diversas partes do corpo. Na unidade de internação, tem recebido todos os cuidados necessários e o atendimento da enfermagem e de médicos da equipe de Cirurgia Plástica. A recuperação incluirá ainda cirurgias para o fechamento das feridas com enxerto de pele nas próximas semanas. “Graças a Deus não quebrei nenhum osso. Imagina só, queimado e quebrado? Tava perdido…”, brinca o paciente.
A alegria, as brincadeiras e a amizade entre paciente e profissionais da saúde ressalta outro item importante nesse processo: a humanização. “A gente percebe a necessidade e a ansiedade do paciente, por isso buscamos atendê-lo da melhor maneira possível. Principalmente, ao descobrirmos que o processo de casamento dele no cartório estava vencendo os 90 dias em fevereiro. Assim, o hospital se mobilizou para ajudá-lo, autorizando a vinda do pastor para realizar o casamento (religioso com efeito civil) e proporcionar esse momento especial a eles. Afinal, a satisfação do paciente nessas horas com a família conta muito, contribuindo para o processo de recuperação do paciente”, explica a enfermeira supervisora Elini Alves Dutra.
E, enfim, chegara o grande dia para o Célio e para a Marilene. “Fiquei muito feliz, graças a Deus. O casamento representa para mim união, mesmo que já estávamos juntos”, agradece a esposa, que, junto com o marido, tem dois filhos: Nicolas, com 12 anos, e Naysla, com 2. No mesmo dia da cerimônia, à noite, puderam ainda reviver o momento especial pela TV. “Eu fiquei muito nervosa, porque não gosto muito de aparecer em fotografia. Mas depois que assisti ao casamento na televisão e ouvi o que eu falei, até me surpreendi, gostei. E acabei ficando famosa. Agora todo lugar que eu passo, as pessoas reconhecem, dão parabéns.”
Tradição no HMC?
Apesar de inusitado, essa não é a primeira vez que acontece um casamento no Hospital Márcio Cunha. Curiosamente, no ano passado, em pleno Dia dos Namorados, a UTI Adulto do HMC era o cenário para o casamento de outro casal – também de Belo Oriente. De casamento marcado para o dia 13 de junho, Cleyton e Jhullimayre, que estava internada por conta de um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico, decidiram não adiar a data e sacramentaram o matrimônio no leito da unidade, com a presença de um pastor e da equipe multidisciplinar da UTI.