Está chegando 11 de abril, o Dia Mundial de Combate à Doença de Parkinson, patologia neurodegenerativa prevalente entre a população idosa que, no entanto, também atinge os mais jovens. Aproveitando a data, a Academia Brasileira de Neurologia (ABN) lança campanha para conscientizar a população sobre os principais sintomas e disseminar importantes informações sobre a doença e seus tratamentos.
O mote deste ano é ‘Doença de Parkinson: caminhando juntos, vivendo melhor’, destacando o fato de que o paciente precisa de total apoio e que não está sozinho na luta contra a doença. “Depois de Alzheimer, Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais frequente na terceira idade. Portanto, com o aumento da expectativa de vida do brasileiro, ela se torna um problema de saúde pública e merece grande atenção”, afirma Dr. Delson José da Silva, coordenador do Departamento Científico de Transtornos do Movimento da ABN.
Durante o mês de abril, a ABN realizará uma série de ações em todas as regiões do país para levar informações precisas e contundentes à população geral. Através de palestras e distribuição de materiais informativos, a população leiga terá acesso a conteúdos de qualidade, visando à formação de base sólida de conhecimentos sobre Parkinson.
PARKINSON
Parkinson é uma doença neurodegenerativa progressiva e incapacitante, que ocorre a partir da diminuição intensa da produção de dopamina, indispensável para o funcionamento normal do cérebro. Na falta dessa substância, o indivíduo perde o controle motor e os movimentos voluntários passam a não acontecer mais de forma automática.
“Estudos apontam que múltiplos fatores contribuem para o surgimento da doença. Fatores ambientais como produtos químicos tóxicos advindos do contato de pesticidas, herbicidas e metais; agentes infecciosos ou mesmo partículas orgânicas danosas que atingiriam um individuo genética e constitucionalmente, podem promover alterações celulares que levariam à morte de neurônios produtores de dopamina”, explica Dr. Delson.
O quadro clínico compõe-se por quatro sinais principais: tremores; lentidão nos movimentos; rigidez dos músculos e articulações e dificuldades de manter o equilíbrio. Seu diagnóstico preciso só pode ser feito por neurologistas. “Exames laboratoriais e funcionais formam um importante arsenal para o diagnóstico da doença. Os exames complementares são indicados no caso de dúvidas quanto ao diagnóstico”, informa.
É importante ressaltar que quanto mais precoce o diagnóstico, o início do tratamento tende a ser mais rápido, o que garante uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes.
TRATAMENTO
A doença de Parkinson não tem cura, mas os tratamentos conseguem atuar sobre os principais sintomas, diminuindo seus efeitos. Segundo Marcus Vinícius Della Colleta, secretário do DC de Transtornos do Movimento da ABN, atualmente duas linhas de tratamento são indicadas: medicamentoso, que atua sobre os sintomas em diversas fases da doença; e cirúrgico, que pode ser ablativo (uma pequena lesão feita em um ponto do cérebro para bloquear algum sintoma) ou, ainda, a instalação de um eletrodo no cérebro (mais conhecido como DBS, do inglês deep brain stimulation), que possibilita o controle de alguns sintomas por meio de modulação elétrica daquela região. “O especialista deve analisar muito bem as vantagens e desvantagens de cada método, individualmente, antes de indicar”, comenta.
As principais novidades no tratamento da DP estão, principalmente, entre as novas formas de administração de medicamentos, como, por exemplo, o uso de adesivos (já disponível) e o desenvolvimento de novas tecnologias, sendo a administração inalatória (ainda em testes) uma delas. São opções que podem ser extremamente benéficas aos pacientes que fazem uso de muitos remédios. “Novas linhas, principalmente baseadas em controles imunológicos da doença, estão em testes, assim como novas drogas para os sintomas. É importante que medicamentos surjam, mas também é necessário o teste com muito controle, para estabelecer completamente a segurança dos pacientes”, ressalta o Dr. Marcus Vinícius.
No Brasil, os pacientes têm acesso aos principais medicamentos utilizados no controle clínico pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Os procedimentos cirúrgicos são contemplados pelo SUS de acordo com os protocolos de cada estado. O sistema privado (planos de saúde) dá cobertura para os procedimentos cirúrgicos de acordo com as coberturas contratadas”, esclarece.
REABILITAÇÃO
Apesar da importância dos medicamentos, estes não melhoram todos os sintomas da doença de Parkinson. Por esse motivo, é imprescindível que o paciente tenha acesso a tratamentos complementares multidisciplinares, que incluem a fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, nutrição, psicologia, educação física e, em algumas situações, a orientação de enfermagem.
“O reconhecimento do papel da fisioterapia na DP já é bem estabelecido. São utilizadas algumas estratégias compensatórias e de reabilitação para melhora funcional e da atividade de vida diária, ou seja: marcha, equilíbrio, transferência, locomoção, vestimenta, entre outros”, salienta Dra. Chien Hsin Fen, vice-coordenadora do Departamento de Transtornos do Movimento da ABN.
A prática de exercícios físicos reduz o estresse oxidativo e promove a plasticidade neuronal. Além disso, a atividade física fornece melhor desempenho motor e qualidade de vida.
Quando o paciente sofre com alterações na fala, ele deve recorrer à fonoaudiologia. “A melhora decorrente da fonoaudiologia é concreta no que diz respeito à fala e deglutição, com indicação o mais prontamente possível, a fim de prevenir problemas com a comunicação e nutrição do paciente”, alerta a vice-coordenadora.
Prevenir é sempre melhor que remediar, por isso os tratamentos coadjuvantes são indicados assim que é feito o diagnóstico.
VIVENDO COM PARKINSON
O grande objetivo da campanha é mostrar que, apesar de ser uma doença sem cura, é possível conquistar independência e ter uma vida saudável vivendo com Parkinson. É isso que conta Alice Suzuki Sato Silva, professora aposentada de 78 anos, que foi diagnosticada com a doença em 2010:
“Meu primeiro sintoma foi ter dificuldade em escrever. Eu reclamei com minha reumatologista e ela indicou que eu treinasse esse ato. Sou professora aposentada, não acreditei que fosse somente algum tipo de falha, pois escrevi a vida inteira. Com o passar do tempo, outros sintomas foram se desenvolvendo e se agravando: fui perdendo a agilidade que tinha nos movimentos. Ao escrever, minha letra diminuía e chegava a um ponto em que eu não entendia mais o que havia acabado de redigir. Senti muita dificuldade para caminhar e fazer atividades físicas e não sabia o que acontecia. Diante desses sintomas, recebi a orientação de procurar um neurologista. Há seis anos, fui diagnosticada com Doença de Parkinson. Eu não tinha tremores, por isso achei muito estranho. Mas a partir daí precisei alterar meus hábitos de vida e passei a aceitar a doença. A reabilitação foi essencial para o meu tratamento. Os medicamentos me ajudaram muito desde o começo, mas a fisioterapia, fonoaudiologia e, atualmente, a hidroterapia, trouxeram mudanças significativas à minha vida e, aos poucos, fui aprendendo a lidar com o Parkinson”.