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Por Carol Gonçalves
NA PRÁTICA 1
Para melhorar ou manter o estado nutricional dos pacientes no Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, de São Paulo (SP), são realizadas triagem e retriagem nutricional, visitas admissional e de rotina, avaliação nutricional e da aceitação alimentar, monitoramento do jejum, discussão multidisciplinar dos casos, levantamento de dados e análise crítica dos indicadores, entre outros procedimentos. É utilizado um manual próprio de dietas, que foi elaborado pelas nutricionistas com base em literaturas e adaptado às particularidades do hospital.
Estes e outros detalhes são revelados por Dr. Roberto Louzano, gastroenterologista e nutrólogo; Fabiana Albuquerque Basílio dos Santos, farmacêutica; Adriana Zupo Domeneghetti, nutricionista da Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional; Silvia da Cruz Serri, fisioterapeuta; e a enfermeira Kátia Codonha Perentel.
A equipe explica que os alimentos e suplementos nutricionais passam por uma degustação com participação de toda a equipe. Os produtos são avaliados quanto ao sabor, aroma e aparência. “Só degustamos aqueles que atendem às nossas necessidades e que estejam de acordo com o perfil dos clientes. Com relação aos demais itens, como sonda e bomba de infusão, existe uma equipe composta por médico, nutricionista e enfermeiro, que realiza testes para comprovar a qualidade do produto”, contam os profissionais.
No caso de nutrição enteral, o Edmundo Vasconcelos tem cuidado especial com a higiene do manipulador, das bancadas e dos utensílios utilizados. Existem dois tipos de sistema de dieta enteral: aberto (dieta em pó diluída em água ou líquida pronta para o consumo) e fechado (dieta líquida pronta para o consumo, armazenada em frascos plásticos ou bags). No caso deste último sistema, as recomendações são que o frasco esteja devidamente higienizado e o manipulador não entre em contato com a ponta do equipo que será inserida no bico do frasco. Já nas dietas de sistema aberto, além dos cuidados citados, a água utilizada no preparo deve ser previamente filtrada e fervida. Quando preparada antecipadamente, a dieta deve ser armazenada sob refrigeração a uma temperatura inferior a 5ºC, por no máximo 24h.
Em se tratando de nutrição parenteral, o hospital mantém monitorização acirrada a fim de evitar problemas, como trombose venosa, complicações metabólicas e sépticas.
A equipe explica que a triagem nutricional é realizada em pacientes que ficam internados por mais de 24 horas e tem como objetivo classificá-los em risco ou não de desnutrir. A metodologia utilizada é a NRS 2002 para adultos e a Stamp 2006 para crianças. Se estiver desnutrido ou em risco de desnutrir, será encaminhado para a Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional. Caso contrário, continuará sendo assistido pela nutricionista responsável, que realiza avaliações periódicas a cada 7-10 dias e acompanha sua alimentação durante as visitas no leito. O paciente que é auxiliado pela EMTN recebe visitas da profissional para ajustes na sua alimentação. Também são realizadas avaliações antropométricas a cada 7-10 dias para verificar ganho ou perda de massa magra. O médico nutrólogo prescreve a dieta ajustada a cada caso – dieta enteral, nutrição parenteral ou suplemento nutricional via oral.
O paciente sem risco nutricional também recebe visitas periódicas da nutricionista a cada sete dias, ou, em caso de uma redução da sua aceitação alimentar, é realizada a retriagem para verificar a dieta, o peso atual e seu estado geral.
Os médicos devem, junto aos profissionais da EMTN, desenvolver o melhor plano terapêutico considerando o estado nutricional do paciente. Após sua implementação, deve-se monitorizar e avaliar os resultados obtidos, para comprovar a eficiência do planejamento inicial e alterar o plano de terapia conforme a evolução do doente.
Cada faixa etária possui particularidades que devem ser consideradas durante a triagem e a escolha do tratamento terapêutico. Durante a admissão do paciente, a equipe de enfermagem informa questões sobre saúde, hábitos alimentares e sociais, bem como alergias, tanto medicamentosas como alimentares. O nutricionista checa as informações do prontuário eletrônico e reforça a informação com o paciente.
A equipe multiprofissional de terapia nutricional do hospital é formada por médico nutrólogo, nutricionista, enfermeira, fisioterapeuta, fonoaudióloga e farmacêutica. Kátia explica que o enfermeiro atua em várias frentes, desde a indicação do paciente com risco de desnutrir até a preparação para a alta. É ele que orienta a equipe quanto à importância do controle de volume infundido de dieta, o risco de broncoaspiração e os cuidados com a sonda. Auditorias frequentes também são realizadas por este profissional para verificar o cumprimento e o registro dos controles de dietas enteral e parenteral.
O Edmundo Vasconcelos possui indicadores de qualidade em terapia nutricional, que permitem verificar os resultados da TN, monitorar eventos adversos e a satisfação do cliente, melhorar a qualidade de vida e a relação custo-efetividade. Os profissionais salientam que cada instituição deve selecionar os seus indicadores respeitando o perfil e as necessidades dos clientes, a política institucional e a importância do que se pretende medir.
O hospital monitora a porcentagem de infusão do volume prescrito de dieta enteral, a porcentagem de pacientes que alcançaram 90% do objetivo calórico em até 72h e a taxa de desnutrição intra-hospitalar (evitável) daqueles acompanhados pela EMTN. Também são realizadas outras estatísticas para identificar o perfil dos pacientes quanto ao estado nutricional e tipo de TN mais comuns no período avaliado. As coletas de dados são diárias e a análise crítica é realizada mensalmente. “Isso nos permite identificar possibilidades de melhorias e estabelecer ações necessárias para correção ou implantação de novas ações para atingirmos a meta de qualidade”, detalha a equipe.
Com relação à atualização dos profissionais da área de nutrição, a instituição tem como objetivo estratégico o apoio ao ensino e pesquisa. Há patrocínio educacional de acordo com as necessidades apresentadas pelo gestor da área. Pode ser aprimoramento na área de técnica (pós-graduação, especialização, participação em congressos) ou na área comportamental. Os profissionais também participam da Jornada Técnica-Científica, realizada anualmente pelo hospital, para atualização e integração entre as áreas.
(Continua…)