A cada ano, a expertise do Hospital Sírio-Libanês na área de Cuidados Paliativos tem sido levada a um número maior de profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2017, com doações voluntárias revertidas em bolsas de estudo, três duplas de diferentes instituições – cada uma composta por um médico e um outro profissional da saúde – estão fazendo cursos de especialização e aperfeiçoamento em Cuidados Paliativos oferecidos pelo Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa (IEP/HSL).
A área de Cuidados Paliativos é uma das que mais crescem dentro da medicina, no Brasil e no mundo. Dentre os seus fundamentos estão a comunicação e o cuidado, com atitudes baseadas no respeito à vida humana e na solidariedade, de forma a favorecer a autonomia dos pacientes que enfrentam doenças graves.
Conforme explica o Prof. Dr. Daniel Neves Forte, da coordenação do Programa de Cuidados Paliativos do IEP/HSL, diferente do que a maioria das pessoas pensa, a especialidade não tem a função de assistir aos pacientes em estado terminal. “Ao contrário, trata-se do desenvolvimento de conhecimentos e competências para que os profissionais da saúde cuidem do sofrimento com base na comunicação, na identificação de sintomas, no suporte à família. Ou seja, na humanização do cuidado”, ressalta.
As doações revertidas em bolsas de estudo, segundo o Dr. Daniel, dão aos profissionais da rede pública de saúde a oportunidade de adquirirem os conhecimentos necessários para este tipo de atendimento.”Temos expectativas de que as doações continuem crescendo para que, a cada ano, o número de bolsistas seja maior. O Hospital Sírio-Libanês entende que isso faz parte da sua missão como instituição”.
Para concorrer às bolsas, que correspondem a 80% do valor dos cursos, é necessário que os profissionais da saúde comprovem experiência em Cuidados Paliativos, tenham qualificação em suas áreas de atuação e apresentem projetos com alto potencial de impacto e de multiplicação nas instituições às quais pertencem.
Para as turmas de 2017 dos cursos de especialização e aperfeiçoamento em Cuidados Paliativos, concorreram 22 projetos. Três foram selecionados – cada um com a participação de um médico e um profissional não-médico. As duplas são originárias do Hospital dos Servidores Públicos do Rio de Janeiro, Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FEHMIG), de Belo Horizonte, e o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, de São Paulo.
“É muito bom ajudar na qualificação de profissionais que irão multiplicar o conhecimento. Educação é ferramenta de transformação para a humanização da saúde com qualidade”, afirma o coordenador.
A experiência de uma bolsista
A médica pediatra Simone Camera Gregory, especialista em Medicina Intensiva Pediátrica, do Hospital Estadual da Criança, do Rio de Janeiro, conta que há pouco mais de um ano ela e sua colega, a psicóloga Michèlle Ávilla, aguardavam ansiosas pelo resultado do processo seletivo do curso de especialização em Cuidados Paliativos do Hospital Sírio-Libanês. A bolsa de estudos significava a possibilidade de se tornarem profissionais melhores, com habilidades para enxergarem o outro na sua pluralidade e aprenderem a melhor forma de cuidar do sofrimento de quem vive a difícil realidade de possuir uma doença que ameaça a vida.
Foram dez módulos, duas semanas de imersão e algumas horas na ponte aérea Rio – São Paulo, mas todo esforço valeu a pena, segundo a médica. “Aprendemos a cuidar do sofrimento humano em suas dimensões física, social, emocional e espiritual. Passamos a enxergar o paciente de forma holística. Aprendemos que comunicar é muito diferente de informar, que exige troca e disponibilidade”, destaca.
A pediatra se diz muito grata a quem subsidiou sua bolsa de estudos, permitindo a conclusão da especialização e a transformação de sua forma de cuidar. “É um compromisso devolver para a sociedade o benefício recebido e colaborar para a multiplicação dos Cuidados Paliativos”, afirma.
O Hospital Estadual da Criança, onde atua a Dra. Simone, é uma unidade de média e de alta complexidade, inaugurada há quatro anos, com foco no atendimento pediátrico de transplantes de órgãos, cirurgias, oncologia e ortopedia. O atendimento é exclusivo ao SUS e abrange a faixa etária de zero a dezenove anos.
Desenvolver Cuidados Paliativos no hospital se tornou fundamental, pois um percentual significativo dos pacientes convive com doenças que podem causar grande sofrimento. O grupo de estudos na área foi formado em julho de 2015. Após a especialização em Cuidados Paliativos, realizada no Hospital Sírio-Libanês, em 2016, Dra. Simone e a psicóloga Michèlle têm desenvolvido estratégias de ensino e difundido o conceito entre as equipes hospitalares.
“Realizamos a Primeira Jornada de Cuidados Paliativos Pediátrico em julho de 2016 e a segunda está programada para Julho de 2017. Iniciamos um trabalho de acompanhamento e acolhimento do luto. Nossa atividade assistencial está em fase inicial, mas temos o objetivo de acompanhar todos os pacientes com doenças ameaçadoras à vida desde o diagnóstico, construindo vínculos que nos permitam cuidar dos sofrimentos das crianças e de suas famílias, fazendo com que o tempo que resta possa ser vivido na sua plenitude”, ressalta.