Uma aliança sem precedentes de médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde de todo o setor da saúde se reuniu em Paris, na França, para pedir aos governos que cheguem, nas negociações do clima da ONU, a um acordo forte que proteja a saúde dos pacientes e do público. Juntos, eles representam declarações de mais de 1.700 organizações de saúde, 8.200 hospitais e unidades de saúde, e 13 milhões de profissionais de saúde, elevando o consenso médico global sobre mudança climática a um nível nunca antes visto.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) lançou recentemente a sua primeira chamada à ação sobre as mudanças climáticas, reconhecendo a importância fundamental da COP21 para o futuro da saúde global. Outros importantes agentes de saúde têm se mobilizado em torno deste momento, com declarações lideradas por organizações como a Associação Médica Mundial e o Royal Australasian College of Physicians.
“As mudanças climáticas e todas suas terríveis conseqüências para a saúde, deveriam estar no centro das discussões agora que se fala no futuro da civilização humana. Afinal de contas, é isso que está em jogo”, explica a Dr. Margaret Chan, Diretora Geral da OMS.
Novas análises da Associação Médica Mundial e da Federação Mundial de Associações de Saúde Pública mostram que enquanto os sistemas de saúde e governos estão começando a agir sobre as implicações para a saúde das alterações climáticas, as políticas dos países ficam muito aquém do que é necessário. Uma pesquisa recente avaliando o grau de preparação do sistema de saúde em nível nacional descobriu que a maioria dos países avaliados não tem um plano nacional para proteger seus cidadãos contra os impactos das alterações climáticas sobre a saúde humana.
Uma revisão feita este ano das relações entre saúde e mudança climática e publicada na The Lancet – uma das revistas médicas mais influentes do mundo – revelou que não agir agora vai levar à perda do avanços conquistados nos últimos 50 anos na saúde pública. Uma abordagem business-as-usual também vai deixar de garantir os benefícios substanciais da ação climática sobre a saúde, já que a transição de uma economia intensiva em carbono ajuda a reduzir as sete milhões de mortes que a poluição do ar causa todo ano.
Os profissionais de saúde também estão tomando medidas em seus próprios hospitais e clínicas, com mais de 7.800 hospitais e centros de saúde em todo o mundo comprometendo-se a adotar ações locais através da redução de suas próprias emissões e melhorando sua preparação para responder a mudança climática.
“Como líderes de saúde temos tanto uma obrigação moral de diminuir a nossa pegada ambiental e uma responsabilidade econômica para fazê-lo de uma maneira eficiente. Isto é absolutamente possível e muitas organizações em todo o mundo têm sido capazes de mostrar como eles podem melhorar a saúde de seus pacientes e comunidades e diminuir o custo da prestação de cuidados de saúde, tudo ao mesmo tempo. O sistema de saúde Gundersen, por exemplo, foi capaz de diminuir suas emissões de CO2 em 80% em apenas sete anos, economizando milhões de dólares”, defende o Dr. Jeff Thompson, CEO do Sistema de Saúde Gunderson.
Com estas declarações, a comunidade de saúde reuniu cidadãos, empresários e investidores em chamar para um forte acordo internacional em Paris. Os profissionais de saúde de todo o mundo viajaram para a 21ª Conferência das Partes (COP21) para mostrar aos políticos que há uma necessidade médica urgente para enfrentar as mudanças climáticas.
“Como médicos, é nosso papel proteger a saúde, chamando a atenção dos líderes políticos para os impactos das alterações climáticas e promover a saúde, defendendo soluções locais, tais como energia limpa e renovável. Milhões de médicos em todo o mundo exigem que a comunidade global deixe Paris com um acordo forte que proteja a saúde global”, finaliza Dr. Xavier Deau, Immediate Past President da Associação Médica Mundial.
Dr. Florentino Cardoso, Presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), declarou: “O Brasil tem um dos maiores ecossistemas do mundo e é muito vulnerável às mudanças climáticas. A região Nordeste do país sofre com a seca todos os anos, e São Paulo, com cerca de 20 milhões de pessoas, está passando por uma enorme escassez de água, desde o ano passado principalmente. Em outras regiões do Brasil, em especial no Sul, as inundações se tornaram muito freqüentes. Doenças transmitidas por vetores sensíveis ao clima, como a malária, dengue e agora as causadas pelo vírus zyka (como microcefalia e até mesmo Guillain-Barré) estão entre as condições de saúde influenciadas pelas mudanças climáticas que ocorrem no Brasil. Muitos outros impactos diretos e indiretos das mudanças climáticas sobre a saúde também são observados por todo o país. A Associação Médica Brasileira está muito preocupada sobre como as mudanças climáticas estão causando problemas relacionados a saúde e as poucas medidas tomadas pelos governos para enfrentar estes desafios. Apelamos aos governos representados em Paris, na COP21, que construam um vigoroso plano de ações contra as mudanças climáticas que põem em risco a saúde e a qualidade de vida das pessoas em todo o mundo”.
OMS Chamada para Ação: www.who.int/globalchange/global-campaign/cop21/en
Declaração de Consenso PRCeA: www.racp.edu.au/advocacy/consensus-statement-health-impacts-of-climate-change/health-impacts-of-climate-change-consensus-statement
O Desafio do Clima no Cuidado da Saúde 2020: greenhospitals.net/en/2020hcccpledge
Declaração Conjunta dos profissionais de saúde francesas: www.wma.net/en/20activities/30publichealth/30healthenvironment/10climate/Projet-communique—EN-version-finale.pdf
Declaração de Profissionais da Saúde alemães: www.climateandhealthalliance.org/news/german-health-organisations-call-for-decisive-action-on-climate-change l www.healthyenergyinitiative.org/get-involved/platform