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“Corujão da Saúde”: a ideia é boa, mas também é preciso atacar a causa do problema (PARTE 2)

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Leia a primeira parte desta matéria em: www.revistahospitaisbrasil.com.br/noticias/corujao-da-saude-a-ideia-e-boa-mas-tambem-e-preciso-atacar-a-causa-do-problema-parte-1

Por Carol Gonçalves

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“Tendo este cenário como referência, fica evidente que a proposta do prefeito de São Paulo seria otimizar este serviço, atendendo os pacientes e cobrindo as lacunas dos hospitais. Isso é totalmente racional, pois viabiliza o serviço, o pagamento da máquina e o profissional médico que está de plantão, o que não necessariamente irá gerar lucro, mas pagará pelo serviço disponível”, expõe Medeiros.

Para ele, a solução proposta é emergencial, mas poderia ser definitiva, pois, em sua opinião, o mercado dos hospitais filantrópicos e privados tem total condição de absorver a demanda do município. Ele sugere que, após o mutirão, poderia ser estabelecida uma rede de instituições de saúde para realizar estes exames no período noturno e nos fins de semana, por exemplo. “Penso que mais dez hospitais ofertando cada um 100 exames por mês seria totalmente adequado com a demanda do município”, acrescenta.

O professor cita como pontos positivos do “Corujão da Saúde” a reorganização da rede de serviços filantrópicos e privados e a diminuição da fila de pacientes. No entanto, ele alerta que se não houver direcionamento adequado, o custo pode ficar muito baixo e não se tornar atrativo para os hospitais particulares. “Esta é uma solução provisória e não ataca o ponto central que é a regulação da oferta e demanda, pois a fila voltará a crescer. Cito o valor pago pelos exames e o tempo de pagamento como pontos negativos, pois o ressarcimento leva 60 dias, em média”.

SOLUÇÃO DEFINITIVA

O professor Medeiros diz que a solução definitiva para resolver o problema das filas de exames médicos no município de São Paulo é ter um excelente sistema de gestão que permita distribuir esses exames de forma inteligente, pois o modelo atual apresenta falhas. O município opera o SisReg, que é um sistema web oferecido pelo Ministério da Saúde criado para o gerenciamento de todo o complexo regulatório, através de módulos que permitem desde a inserção da oferta até a solicitação, pela rede básica, de consultas, exames e procedimentos na média e alta complexidades, bem como a regulação de leitos hospitalares.

Funciona da seguinte forma: o município tem capacidade para uma certa quantidade de exames, que são distribuídos pela Secretaria Municipal de Saúde entre diversas regiões, de forma quantitativa e não qualitativa. Quando o médico prescreve um procedimento, a UBS precisa entrar no sistema da sua região e verificar a disponibilidade de vaga e, em caso positivo, agendar o paciente.

Medeiros conta que, nas UBS, estas agendas recebem o nome de “cotas” e, em caso de indisponibilidade, as unidades avisam o paciente que não existe mais cota no mês e que o agendamento poderá ser feito na próxima oferta para a unidade. “Este processo não é virtuoso, pois a central não consegue perceber o tamanho da demanda e muito menos o grau de urgência daquele paciente. Consequentemente, começam os problemas de fila de espera e cirurgias de urgência, porque não realizaram o exame previamente, como forma de buscar um tratamento clínico. Daí também aumentam os problemas financeiros”, conta Medeiros.

Ele diz que há um número grande de perdas de agenda no município de São Paulo pois às vezes as cotas são disponibilizadas com tempo curto para avisar os pacientes. “De forma resumida, tem solução, sim, basta reorganizar o SisReg e adotar o prontuário eletrônico para apoiar este processo de seleção das prioridades”.

MOTIVOS

E como chegou-se a esse patamar de espera de 485,3 mil exames? Medeiros diz que não é possível afirmar que é apenas problema de má gestão, pois há muitas variáveis envolvidas no processo como um todo, por exemplo, o excesso de exames prescritos. E isso é causado por dois motivos: há pacientes que entendem que a boa medicina só acontece quando o médico pede algum exame e há médicos que só conseguem realizar o diagnóstico através de 12 a 20 exames. “Perdemos o velho e bom médico de família, que conhecia o histórico da saúde de toda a família e muitas vezes não pedia qualquer exame complementar, apenas com a anamnese conseguia prescrever o tratamento”.

Segundo ele, temos que reorganizar o sistema de saúde e, inclusive, abranger a sociedade, demonstrando claramente os custos envolvidos. “Não adianta o paciente entrar no consultório com uma vasta pesquisa no Google e pedir apenas para o médico preencher o receituário. Precisamos desenvolver cada vez mais o prontuário eletrônico e, com isto, conhecer o paciente, seu histórico e alinhar o tratamento com todos os serviços de saúde”, expõe.

Medeiros lembra que podemos até resolver o problema da regulação dos exames, porém isso não significa que resolveremos o problema relacionado ao tratamento correto do paciente. “Também devemos envolver mais os estudantes nas faculdades de medicina, demonstrando que há uma hierarquia de exames a serem prescritos conforme o diagnóstico e prognóstico do paciente. E temos que lembrar à sociedade que às vezes um bom exame de raios X já responde por muitos diagnósticos que dispensam TC e TM”, acrescenta.

(Continua…)


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