O Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), realizou, no sábado (28), o primeiro implante de ECMO (dispositivo de circulação extracorpórea com membrana de oxigenação) veno-arterial. O equipamento faz a circulação sanguínea extracorpórea, semelhante a uma hemodiálise, mas com a função de oxigenar e bombear o sangue para manter as funções vitais até a recuperação do coração. Considerado de alto sucesso, o procedimento foi realizado em uma paciente de 42 anos com insuficiência cardíaca avançada. Todas as despesas, desde o transporte, internação e procedimento, foram custeadas pelo Projeto DACs (sigla para Dispositivos de Assistência Circulatória) – coordenado pelo Hospital Moinhos de Vento na Região Sul do Brasil, dentro Programa de Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), do Ministério da Saúde.
Moradora de Tupandi, a paciente estava com o coração bastante comprometido, segundo relato da médica cardiologista da equipe, Priscila Raupp da Rosa. Após um infarto, havia sido realizada uma angioplastia com colocação de stent no Hospital Universitário da Ulbra, em Canoas. Algumas horas após, sofreu três paradas cardíacas. “Ela já estava em choque cardiogênico e evoluindo para falência múltipla de órgãos quando fomos acionados para avaliação do caso. O ECMO foi fundamental na substituição temporária das funções do coração”, explica a médica, ao relatar que, nas 48 horas em que o equipamento foi usado, houve tempo para a recuperação do órgão. Ela permanece no CTI, estável e acordada. A perspectiva de alta do CTI é para os próximos dias. O ECMO, acrescentou Priscila, também é utilizado nos casos em que se aguarda um coração para transplante.
A terapêutica de resgate envolveu uma equipe multidisciplinar com médicos, enfermeiros, técnicos de Enfermagem e fisioterapeutas, entre outros. De acordo com a médica intensivista Luciana Tagliari, o resultado foi fruto do treinamento com todas as equipes e em diferentes instituições, desde a identificação do caso nos hospitais parceiros do programa, passando pela estrutura de ambulância, até a reabilitação no CTI, que conta com uma equipe exclusiva durante 24 horas ao lado do paciente. “O treinamento deve ser recorrente, para que as equipes estejam sempre prontas e afinadas para esse tipo de paciente”, acrescenta a médica.
Conforme relata o coordenador do projeto, o cardiologista Luís Eduardo Rohde, o processo foi muito ágil. Envolveu mais de 20 pessoas qualificadas para a avaliação e identificação do caso que se enquadrava na possibilidade do uso do dispositivo, passando pela remoção e realização do procedimento. A importância do Proadi-SUS para o avanço nos estudos na área e a recuperação de pacientes também foi destacada pelo médico. “O programa permite oferecer uma tecnologia de alta complexidade que não é disponibilizada pelo SUS para aquele paciente mais agudo. Além disso, aprimoramos a expertise em hospitais públicos, com qualificação de diversas equipes”, observa Rohde.
O equipamento chegou ao Hospital Moinhos de Vento em março, em função da implantação do Projeto DACs, que avalia a efetividade de tratamentos avançados para doenças cardíacas e a viabilidade econômica no Sistema Único de Saúde. O estudo ocorre em quatro hospitais públicos da Região Sul: Clínicas e Instituto de Cardiologia de Porto Alegre e as Santas Casas de Pelotas e de Curitiba. Já foram realizados dois cursos de capacitação para as equipes. De 13 a 15 de novembro, os profissionais dessas instituições serão mais uma vez treinados no Hospital Moinhos de Vento para o manuseio e uso correto dos equipamentos, além do manejo com os pacientes. A análise de custo-efetividade desses dispositivos, além do apoio à implantação do Programa de Assistência Mecânica Circulatória em hospitais do SUS, será realizada até o fim do ano.